terça-feira, 7 de dezembro de 2010

jornalismo cientifico em mocambique

PRIMEIRO CAPÍTULO: A PRESENTAÇÃO DO TEMA
1. IntroduçãoO presente trabalho Jornalismo Científico em Moçambique˸ Uma an’alise do Jornais Domingo e @ Verdade é um mini-ensaio integrado nas aulas práticas da cadeira de Método de Pesquisa em Ciências Sociais leccionad no segundo semestre do terceiro ano do curso de Licenciatura em Jornalismo ministrado da Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane.
Tal como o título sugere, o estudo tem como objectivo principal analisar o conteúdo dos artigos sobre ciência e tecnologia, a frequência com que esta temática é coberta e a perspectiva de abordagem que esta temática tem merecido nos jornais Domingo e @ Verdade veiculados nos meses de Setembro e Outubro.
O trabalho comporta quatro capítulos˸ o primeiro comporta a introdução, apresentação do trabalho. No segundo capítulo faz se a revisão da literatura, onde fala-se da origem do jornalismo científico no mundo, em Moçambique e papel dos media na divulgação científica. No terceiro capítulofaz-se a análise quantitativa dos resultados da pesquisa de campo, faz se a interpretação e o enquadramento teórico. O último capítulo comporta as conclusões do estudo e a bibliografia usada.
O trabalho sustenta-se na teoria de socialização dos pelos media, desenvolvida, sobretudo, por Montero (1993) e McQuail (1987), que sustenta, na essência, que os meios de comunicação social desempenham um papel de educação que, outrora, antes do surgimento dos meios de comunicaao social era confiado sobretudo, à família, escola igreja, comunidade, partidos políticos, entre outras organizações e na teoria de tematização de Niklas Luhman (1978) que sustenta que os temas que são abordados pelos media com maior frequência constituem temas de debate no quotidiano das pessoas e se , os, mesmos temas forem abordados com muita frequência acabam levando à mudança de comportamento.
A análise dos resultados é vista a partir de duas perspectivas teóricas (1) teoria de gatekeeper e (2) estudo do newsmaking.

1.1 Objectivo Geral
Compreender até que ponto os factos que acontecem em Moçambique sâo susceptives de ser notícia de Ciência e Tecnologia.

1.2 Objectivos específicos

2. Perceber como è que Moçambique se enquadra no contexto do Jornalismo científico, tomando em consideração que esta área necessita de profissionais formados nesta área, ou que se dedicam a recolha, tratamento e disseminação de informações sobre ciência e tecnologia.
3. Analisar a maneira como os jornais impressos concretamente, o Domingo e @ Verdade tem feito a cobertura de assuntos inerentes à ciência e tecnologia, sobretudo no que respeita à temática, perspectiva de abordagem, frequência e origem dos assuntos monitorados e;
4. Perceber na essência o que dizem os media sobre ciência e tecnologia.
1.3 Delimitação do tema
O principal objecto de estudo, neste trabalho, são os jornais Domingo e @ Verdade. Tal como sugere o título, o trabalho propõe-se analisar a cobertura que estes dois semanários fazem aos temas relacionados com ciência e tecnologia. Portanto, serão monitorizados todos os textos presentes que versam sobre ciência e tecnologia, quer noticiosos quer opinativos.
1.4 Definição do problema e pertinência do tema

O século XX experimentou, principalmente a partir da década de 50, um desenvolvimento científico extraordinário. O resultado de pesquisas realizadas nas mais diversas áreas do conhecimento humano modificou radicalmente as condições de vida da humanidade. Novos campos das ciências exactas, como a informática, a Nano tecnologia, a pesquisa espacial como fonte de experimentação de produtos para posterior uso no dia-a-dia, ou das ciências sociais, como aqueles que estudam o comportamento individual e coletivo da espécie humana, foram anexos ao imenso arquivo de dados, construído a partir do surgimento da inteligência no homo sapiens. Cada nova descoberta, de uma maneira geral, parte da apreensão de um estudo anterior, acrescida de uma pesquisa adicional, que leva a um outro. Sant´Anna (2010)

Se há um consenso na comunidade científica hoje é quanto a necessidade de comunicação da Ciência. A socióloga Hebe Vessuri destaca que a Ciência que não é comunicada não existe.
Na mesma linha, Lafuente inverte o paradigma cartesiano: existo porque sou pensado e não porque penso. Knorr-Cetina pontua com propriedade que a comunicação infiltra a investigação científica e é responsável pela sua projecção futura. Uma ciência privada, diz ela, é tão impensada quanto uma linguagem privada.
Outros autores, em diferentes contextos, destacaram o papel da comunicação ora como instrumento de vulgarização do conhecimento científico, ora como ferramenta de educação para a ciência ou de alfabetização científica, e, ora, ainda como uma acção estratégica de apropriação social do conhecimento. Em outras palavras, como acção de cidadania.

A última década do século XX regista novas preocupações nos debates da relação Comunicação – Ciência. As tensões cientistas vs divulgadoras, dão lugar a novas questões de fundo como o papel da divulgação para o desenvolvimento da pesquisa, a relação Ciência – Comunicação – Educação, a formação do divulgador, a divulgação como indicador a ser considerado nas definições de políticas públicas de Ciência e Tecnologia, a divulgação como instrumento de alfabetização científica, entre outros.
Ciência e Mídia são aliadas contra o analfabetismo científico, contra a exclusão social, por mais qualidade de vida, por uma sociedade sustentável, por mais investimentos em educação, entre outras.
Na chamada sociedade do conhecimento, os saberes especializados se multiplicam numa velocidade espantosa, cimentando a barreira entre os que sabem (e por isso podem) e os que não sabem (e não podem) e nem têm acesso ao saber.
Em Moçambique há vários acontecimentos ligados à ciência e tecnologia que passam despercebidos à luz dos jornalistas. Existem factos, ligados á ciência e tecnologia que acontecem no país, ligados à ciência e tecnologia que são negligenciados pela mídia. Parece que a mídia negligencia este lado de divulgação da ciência e tecnologia, dando ênfase a outras áreas como a política, saúde, educação em detrimento da ciência e tecnologia.
Portanto, não é possível pensar na existência da ciência sem a subsequente publicação. De acordo com Meadows (1999), “a comunicação situa-se no próprio coração da ciência”. As actividades de pesquisa, fundamentais para o desenvolvimento humano, nos mais diversos sectores, necessitam da disseminação social e inter pares para serem conhecidas, avaliadas, conferidas, replicadas e então aceitas, criticadas ou até mesmo negadas. Meadows (1999) afirma que “as pesquisas e a comunicação de seus resultados são actividades inseparáveis”.
A reflexão sobre a produção do conhecimento científico e a transmissão deste conhecimento ocupa posição preponderante na actualidade, principalmente sobre o papel que a ciência desempenha nas relações que permeiam a sociedade contemporânea.
Outro aspecto importante diz respeito às relações do Estado com a produção do conhecimento, na medida em que há uma interpenetração cada vez maior entre governos e entidades de pesquisa e, a partir desta realidade, a responsabilidade que os media, principais canais de divulgação da informação científica, têm neste processo.
1.5 Perguntas de partida
• O que os jornais Domingo e @ Verdade dizem quando abordam matérias da ciência e tecnologia?
• Será que a ciência e tecnologia merecem destaques nos Jornais Domingo e @ Verdade, de igual modo que os outros temas como política, educação e economia tem merecido?
1.6 Hipóteses
• Os jornais Domingo e @ Verdade não dão à ciência e tecnologia igual destaque que é dado a economia política;
• Os jornais Domingo e @ Verdade ao falarem sobre ciência e tecnologia não procuram demonstrar o lado útil ao seu público; não trazendo o lado humano ou social dos acontecimentos.

SEGUNDO CAPÍTULO: REVISÃO DA LITERATURA
2.1 História do Jornalismo Científico

De acordo com Oliveira (2002), o processo de divulgação da ciência teve início, de maneira mais sistemática, cerca de dois séculos após a criação dos tipos móveis, por Gutenberg, em meados do século XV, fato que foi a base para a rápida Multiplicação dos impressos e fundamental para a criação da imprensa. Este hiato de duzentos anos não é grande, se analisado historicamente, já que as modificações sociais, durante a Idade Média, eram muito mais lentas.
Além disso, novidades como a possibilidade de reprodução de documentos, não mais à mão, através do trabalho de escribas, mas pela impressão idêntica a partir de um original, eram disponibilizadas somente para uma pequena camada da sociedade: como os representantes do clero, da nobreza e da emergente burguesia mercantilista, já que o custo inicial tornava proibitivo o acesso a quem não podia pagar pelo serviço.
Oliveira (2002) afirma que as primeiras publicações científicas começaram a surgir em 1610, quando o astrônomo italiano Galileu Galilei publica o livro “Mensageiro Celeste”. Na obra, através de uma linguagem coloquial, ele faz um relato acessível ao público a respeito da sua descoberta sobre as três luas de Júpiter. Com o livro, Galileu causa sensação em toda a Europa. Schwartz (1992) relata que “a demonstração por observação direta que os corpos celestes podiam se mover ao redor de outros centros que não fossem a Terra era assunto do momento nos salões da nobreza e nos bares peixeiros”. Galileu pagou caro pelo pioneirismo.
Ao contrariar a tese da Terra como centro do universo, defendida pela Igreja, proclamando o heliocentrismo, foi considerado herético pelas autoridades religiosas.
Perseguido pela Inquisição por mais de vinte anos, Galileu foi obrigado a se retratar, num dos episódios mais famosos da História. Para evitar a repetição do fato, nas obras seguintes Galileu passou a usar uma linguagem matemática, inacessível ao clero e à maioria das pessoas.
O desenvolvimento do sistema de impressão na Europa fez surgir, a princípio lentamente, a divulgação do trabalho de uma comunidade de cientistas, que procuravam fazer com que suas idéias e pesquisas pudessem tornar-se acessíveis a um grande número de pessoas. A partir daí, começa o período da chamada revolução científica, fenômeno surgido na Europa que se expandiu ao longo dos séculos XVI e XVII. Uma revolução que implicava não somente nos desenvolvimentos escritos no campo da ciência e da técnica, mas em transformações mais amplas na filosofia, na religião e no pensamento social, moral e político. Era o embrião para a cultura científica que galvanizaria a Europa de inspiração iluminista, nos séculos XVIII e XIX, inspirada pelas idéias e conquistas de nomes como Descartes, Galileu e Isaac Newton.
De acordo com Oliveira (2002), a Inglaterra de Newton desponta como berço da divulgação e do jornalismo científico, e, a partir do século XVII, começa a intensa circulação de cartas, expedidas por cientistas, que informavam sobre suas novas descobertas, correspondências que eram redigidas em vários idiomas, pois o latim deixava de ser a língua dominante da religião e da ciência.
Porém, segundo a autora, se a Inglaterra foi o berço deste género de jornalismo, o pioneirismo no desenvolvimento do jornalismo científico coube ao alemão Henry Oldenburg, que percebeu o potencial do novo género. Além dessa percepção aguçada, ele tinha um talento especial, o de aglutinar e inspirar a nova geração de homens da ciência. A combinação do caráter informal e fragmentado das cartas escritas com o potencial de alcance popular das mesmas foi identificada por Oldenburg, que, assim, deu início à profissão de jornalista científico.
Divulgado à época como um novo gênero literário, o jornalismo científico abriu espaço para a divulgação das mais destacadas notícias dos tempos modernos.
Oldenburg foi também o criador, em 1665, do periódico científico Philosophical Transactions, que serviu durante mais de dois séculos como modelo para as modernas publicações científicas.
A publicação do Phil. Trans, como ficou conhecido o periódico, não dava retorno financeiro a Oldenburg, era um empreendimento pessoal, que só foi reconhecido como publicação oficial da Real Sociedade Britânica quase um século após a morte do alemão.
Thomas Henry Huxlwy apud Boorstin afirmou em 1866 "se todos os livros do mundo fossem destruídos, à exceção dos Philosophical Transactions, é seguro dizer que os fundamentos da ciência física permaneciam inabaláveis e que o vasto progresso intelectual dos últimos dois séculos estaria amplamente, ainda que não completamente, registrado". A afirmação dá a dimensão da importância do trabalho de divulgação científica iniciado por Henry Oldenburg.
Já Burkett (1990) afirma que o que surgiu inicialmente não pode ser denominado jornalismo científico, e sim redação científica. Esta foi, mais adiante, a base para o jornalismo científico atual. Para Burkett, a redação científica surgiu de um sistema de comunicação secular, iniciado no século XVI, quando os primeiros cientistas se defrontavam com a censura e suas atividades eram reprovadas pela Igreja e pelo Estado. Seus encontros eram às escondidas e em várias cidades para informar uns aos outros sobre suas descobertas relativas à nova filosofia natural.
Desses encontros, brotou a tradição da comunicação aberta e oral sobre assuntos científicos. A Accademia Secretorum Naturae, que teve seu início em Nápoles, Itália, em 1560, foi a primeira das diversas sociedades que reuniam cientistas para trocar informações e mostrar o resultado das suas pesquisas.

2.2 História do Jornalismo científico em Moçambique

A política portuguesa em face de suas colónias, Ao contrário de Espanha atrasou em cerca de trezentos anos a implantação da imprensa em seus territórios. Foi um fenómeno externo – a invasão de Portugal pelas tropas napoleónicas e a fuga da Família Real para o Brasil, com a consequente necessidade do translado das instituições do império para o Novo Mundo – que encaminharam as mudanças substanciais, depois desenvolvidas. Os acontecimentos de 1817, obrigando Dom João VI a retornar a Portugal; a constituição liberal portuguesa de 1820 e a independência do Brasil, em 1822, mudaram a posição portuguesa e, em 1836, decretaram a necessidade de criação de órgãos oficiais de informação nas colónias remanescentes.
Moçambique, iniciou sua imprensa a partir de 13 de Maio, com a publicação da primeira edição do Boletim do Governo da Província de Moçambique. O primeiro jornal não oficial seguiu-se alguns anos depois, com a publicação de O Progresso, a partir de 9 de Abril de 1868. Parece que teve apenas uma única edição, provocando desde logo a acção sensorial do governo, mesmo contra a vontade do Governador-geral. Bem ou mal, contudo, outros títulos vão se suceder. É só ao final do século XIX, porém, que, de facto, multiplicar-se-ão os títulos de publicações que vão ocupar todo o território de Moçambique (ROCHA, 2000, pp. 90 e 91).
O tipo de Jornalismo que era praticado nesta altura não apresenta marcos de científico pois era revolucionário contra a presença colonial e era local.

Após a independência em 1975, o jornalismo em Moçambique entra na sua segunda fase. Em 1977, entre os dias 12 e 15 de Setembro, realizou-se o I Seminário Nacional de Informação, em Macomia, cujo objectivo era a discussão da concepção geral da comunicação social no contexto revolucionário e popular.
Foi na sequência do III Congresso da FRELIMO, realizado em Fevereiro do mesmo ano, que aquele movimento armado (Frente de Libertação de Moçambique) se transforma em partido político e se institucionaliza em partido Marxista-Leninista. Será, contudo, este seminário que refletirá esta ideologia nos debates e nas orientações que iria oferecer à comunicação Vide Tempo n° 259 de 21 de Setembro de 1975, p.48-52. Vide Documentos da Conferência Nacional do Departamento de Informação e Propaganda da FRELIMO, Macomia, 26 a 30 de Novembro de 1975. NAMBURETE (2003).

Samora Machel estabeleceu que a Informação deveria desenvolver um papel fundamental na criação do Homem Novo, o que só aconteceria se os trabalhadores da Informação se engajassem na sua própria transformação, assumindo ao nível das ideias, do trabalho, da vida e do comportamento, os valores do homem socialista. Para tal, dar-se-ia uma atenção particular ao enquadramento político dos jornalistas, intensificando a implantação das estruturas do Partido nos órgãos de informação. Com o mesmo objectivo, seria criada uma Organização Nacional de Jornalistas (ONJ) e uma Escola de Jornalismo, de Informação e Comunicação, responsável pela formação e reciclagem dos jornalistas. Quanto à escola, sublinhe-se que era uma iniciativa pioneira em Moçambique, tendo sido aberta em 1980. O Seminário exigia também que os jornalistas fossem mais inovadores e fizessem uma ligação mais estreita entre o destinatário e o profissional da imprensa, de modo a que a mensagem atingisse os destinatários. IDEM
Sobre este período há ainda a salientar que a falta de quadros e meios obrigou a que, nesta fase, houvesse uma centralização dos recursos técnicos e humanos, chegando mesmo a utilizarem-se das infra-estruturas dos grupos dinamizadores e das células do partido FRELIMO para a disseminação da informação valendo-se dos Jornais do Povo, cadeias de correspondentes populares, circuitos móveis de cinema, rádios comunitárias, indústrias correlativas como a de produção de rádios de baixo custo, etc. Foram também criadas casas de cultura e intensificada a utilização das línguas nacionais por meio da Rádio Moçambique. Neste período não se verifica nenhum marco de Jornalismo Científico.

Nos finais da década 1980 e princípios da década de 1990 o jornalismo inicia uma nova fase, com o destaque para a abolição do Ministério da Informação e a criação no seu lugar do Gabinete de Informação, sob tutela do Gabinete do Primeiro Ministro, a abertura do país à economia de mercado em 1989, quando o governo renuncia formalmente ao marxismo, e a aprovação da nova Constituição da República de 1990 e a aprovação da Lei de Imprensa de 1991 que, dentre outros aspectos, abre campo para a existência de novos tipos de propriedade de meios de comunicação no país, tais como, privados, públicos, mistos.
É na senda destes novos ventos de mudanças que sopraram sobre Moçambique que surge uma grande avalanche de novos órgãos de comunicação social, principalmente no sector da imprensa escrita, a partir de 1994. A Mediacoop, uma cooperativa de jornalistas independentes, que antes serviram aos media governamentais, decidiu lançar as suas publicações como alternativa aos meios de comunicação estatais. Em 1992 é lançado o Mediafax, um diário distribuído via fax, como a solução de impacto que os jornalistas encontraram para a realização de seus objectivos editoriais independentes. Em Fevereiro de 1994 surge o semanário Savana, posteriormente o Demos e a partir daí assistiu-se uma proliferação dos media, principalmente da imprensa escrita. IBIDEM (2003)
Segundo dados do Gabinete de Informação (2002), existem no país 230 órgãos de imprensa escrita (dos quais 27 jornais e 16 revistas se encontram em circulação), foram licenciadas 43 estações rádio (das quais 28 estão em actividade) e 20 estações de televisão, 10 das quais estão em operação.
Depreende-se dos dados acima que o ambiente proporcionado pela abertura legal, com a aprovação da nova Constituição da República e a inclusão da Lei de Imprensa, é bastante favorável e coloca o país como sendo dos poucos no continente onde a liberdade de imprensa e o pluralismo dos meios de comunicação são reais.
Sobre o pluralismo dos órgãos de comunicação social, Moçambique apresenta uma nota positiva, o que pode ser confirmado pela diversidade do seu regime de propriedade. O estudo realizado para a UNESCO, Panorama do Pluralismo dos Media (1999), indica que 34% dos órgãos de comunicação moçambicanos estão na totalidade ou maioritariamente nas mãos do Estado, 36% possuídos inteira ou maioritariamente por interesses comerciais privados e os restantes 28% sendo detidos por interesses comerciais sem fins lucrativos.

Apesar do quadro positivo que o sector da comunicação social apresenta, em termos de pluralismo, calculado pela diversidade da sua propriedade, o facto de a maioria dos jornais ser inteiramente (14) ou maioritariamente (2) propriedade de interesses privados e os restantes jornais pertencerem inteira ou maioritariamente a entidades privadas sem fins lucrativos (6), ou a empresas públicas (3), o predomínio de indivíduos singulares a possuir a maioria das empresas comerciais, cria uma grande inquietação sobre se essas empresas não serão vulneráveis em termos de capitais.
A partir desta abertura do mercado abre-se um espaço para a divulgação de resultados científicos e tecnológicos.

2.3 Papel dos media na divulgação científica

Segundo Loch (1981), a relevância da divulgação dos resultados das investigações científicas, não somente na área em que é estudada, mas também entre o grande público, é inegável. Corrobora esta afirmação o interesse cada vez maior da sociedade em publicações que divulgam informações sobre ciência e tecnologia, comprovado pelo número de cadernos, revistas e sites sobre o tema.
Esta afirmação de Loch é reforçada por Migliaccio (apud Sant´Anna2010), o qual afirma que o jornalismo científico é tema de grande importância no mundo actual, e a força que vem tendo na informação jornalística é demonstrada com facilidade através do espaço para artigos e comentários que envolvem a ciência. O desenvolvimento científico e tecnológico é, hoje, um dos vectores de poder nas negociações entre os países e deve alcançar patamares ainda mais altos durante este século.
Por outro lado, cada vez mais o homem se preocupa em conseguir que os factos científicos favoreçam o desenvolvimento social, por isso aumenta a preocupação de que o público deve ser informado sobre o tema, de tal forma que seus benefícios sejam utilizados convenientemente.
Às vezes, o avanço científico é tão espectacular que se torna notícia obrigatória, e o jornal não pode deixar de registá-la. Mas não são só os avanços espectaculares que fazem a ciência e, por esse motivo, com frequência o trabalho do pesquisador costuma passar ignorado e incompreendido.
"Cabe ao jornalista, mais do que ao cientista, fazer a sua difusão ao grande público, pois a pesquisa e o trabalho científico que se dirigem à produção do conhecimento, exigem uma dedicação exclusiva, mesmo que muitos cientistas possam colaborar, enviando publicações aos jornais e demais órgãos de difusão comunicativa". (Idem).


TERCEIRO CAPÍTULO: ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA
3.1 Análise dos resultados da pesquisa

1.1 Total de estórias por jornal
Foram monitorizadas 22 histórias nos meses de Setembro e Outubro, sendo que o jornal @ Verdade veiculou um total de 16 histórias sobre ciência e tecnologia que corresponde a 72.72 % do total dos textos monitorizadas neste período, enquanto o jornal Domingo monitorou um total de 6 histórias que corresponde a 27.27% das histórias publicadas.
1.2 Fonte das notícias

Fonte
Jornal Agências Outro Jornal Reportagem/ investigação Internet MCT
@ Verdade 4 8 3 1 -
Domingo - 1 3 2

Das 22 estórias analisadas, 6 resultam da iniciativa do próprio jornal, 9 resultam da consulta de outros Jornais, 4 de agências de Informação quer de Moçambique como de outros países, 2 provém do Ministério da Ciência e Tecnologia e apenas uma é que foi tirada da Internet.
1.3 Género
Género
Jornal Notícia Reportagem Opinião Entrevista
@ Verdade 8 7 - 1
Domingo 3 3 - -
O género mais presente nos artigos veiculados é a notícia com 11 textos equivalentes a 50% dos textos, seguido da reportagem com 10 textos equivalentes a 45.34% e a entrevista com apenas 1 texto correspondente a 4.5% dos textos monitorizados. O género opinião não foi usado durante o período em estudo uma vez que nenhum texto opinativo foi veiculado.


1.4 Pais, África ou Internacional

Nacional/inter
Jornal Nacional África Internacional
@ Verdade 3 - 13
Domingo 5 - 1

14 Estórias correspondentes a 63.63% veiculadas neste período são referentes a acontecimentos do âmbito Internacional e 8 estórias correspondentes a 36.36% são referentes a acontecimentos no país. De referir que não se veiculou neste período nenhum texto noticioso sobre África.
1.5 Secção ou página em que aparece

Secção
Jornal Destaques Nacional Internacional/mundo Tecnologias Opinião
@Verdade - 1 1 14 -
Domingo - 5 1 - -

Do total de 22 estórias monitorizadas, 14 correspondentes a 63.63% aparecem na página de Tecnologias e pertencem ao Jornal @ Verdade, uma vez que o Domingo não tem uma página ou secção destinada à ciência e tecnologia. 6 estórias aparecem na página ou secção destinada as notícias nacionais. A ciência e tecnologia não mereceram destaque durante o período em análise
1.6 Tema central sobre o qual o texto versa
Tema central
Jornal Ciência Novas Teconolgias TICs e/ou seu uso Eventos de Ciência e tecnologia
@ Verdade 2 7 7 -
Domingo 1 3 - 2

10 Estórias correspondentes a 45.45 % do total de textos monitorizados falam sobre novas tecnologias, principalmente do primeiro mundo, descobertas de novas técnicas, etc. 7 estórias correspondentes a 31.81%, falam sobre o uso das Tecnologias de Informação e comunicação, apenas 3 equivalentes a 13% falam sobre ciência e 2 equivalentes a 9% abordam sobre eventos ligados à ciência e tecnologia no país desde feiras, encontros onde se discute sobre ciência e tecnologia.
3.2 Interpretação ou enquadramento teórico dos resultados
A pesquisa conduziu á conclusão de que a maioria das estórias que são veiculados relacionado à ciência e tecnologia são referentes as Novas tecnologias bem como o uso das Tecnologias de Comunicação e Informação.
Durante o período em análise o Jornal domingo veiculou apenas 6 estórias ligadas à ciência e tecnologia. De referir que o jornal Domingo não tem uma página destinada a assuntos sobre ciência e tecnologia e quando abordava estes assuntos, tratava-os de forma muito superficial em forma de notícias muito curtas que na sua maioria eram referentes a eventos ligados à ciência e tecnologia que enquadram-se no âmbito dos trabalhos do Ministério da Ciência e Tecnologia, o que conduz à confirmação da primeira hipótese segundo a qual os meios de comunicação social não dão à ciência e tecnologia igual destaque que é dado a economia política.

Já o jornal @ Verdade, limitou-se a trazer apenas os acontecimentos ou descrevê-los sem trazer o lado útil para o leitor. Este, foi usado para passar as informações das comunidades científicas. Mais de metade das histórias resulta de pesquisa na internet, apenas uma pequena parte foi iniciativa dos jornais. Igualmente, fica provada a segunda hipótese segundo a qual os jornais Domingo e @ Verdade ao falarem sobre ciência e tecnologia não procuram demonstrar o lado útil ao seu público; não trazendo o lado humano ou social dos acontecimentos.
Sobre o facto de os media não darem muito destaque aos assuntos relacionados à ciência e tecnologia, a favor, sobretudo, da política, economia e sociedade suscita questionamentos sobre o que determina que certos acontecimentos sejam considerados e outros não sejam.
Na tentativa de responder a esta pergunta, na década 50, o estudioso norte-americano David White a teoria de gatekeeper ou da acção pessoal. Esta teoria considera que as decisões dos jornalistas são subjectivas, e influenciadas por um conjunto de pessoal de experiências, atitudes e expectativas, mais do que por constrangimentos organizacionais. Ao chegar a esta conclusão, White deu fonte impulso á superação das teorias do espelho que viam as notícias como um espelho dos acontecimentos.
De acordo com Migliaccio (apud Sant´anna 2010) a redacção de um texto jornalístico pressupõe uma interrogação em sua origem e uma resposta em seu conteúdo, escrita de forma opinativa, interpretativa ou informativa, de acordo com o género jornalístico proposto inicialmente, por isso o jornalista sempre responde a uma ou mais perguntas, quando opina, interpreta ou informa sobre os factos.
Segundo Wolf (2002) “a selecção de factos a se tornarem notícia estão vinculados a três vertentes principais: a cultura profissional dos jornalistas, a organização do trabalho e os processos produtivos”. Pontuando um facto através dos critérios acima, ele sofrerá a influência do julgamento dos pauteiros e editores, embalado em sua cultura profissional. A organização do trabalho, a hierarquia, as jornadas de trabalho também terá influência no produto final (a notícia), bem como os processos produtivos e suas limitações ou vantagens como o horário do deadline, a limitação de caracteres, os tempos envolvidos para edição, diagramação, impressão e distribuição

Já para Guimarães (2001), a matéria jornalística é basicamente a narrativa do acontecimento, ou seja, é basicamente notícia. E desse modo, quando fomos pensar em falar em jornalismo científico, precisamos pensar sobre o que é a notícia para este jornalismo.
Que particularidade ou aspecto da ciência pode ser apresentado como notícia, e de que forma será publicada. Neste ponto, podemos trabalhar com um conceito básico do jornalismo, que é o de newsmaking, ou seja, tudo aquilo que envolve o processo de produção de notícias, e, principalmente, a noticiabilidade, as características que fazem de um facto uma notícia.
Para Chaves (2001) muitas críticas são dirigidas ao jornalismo científico. Entre elas, o sensacionalismo, que ela reputa como um factor de grande influência na cobertura da produção científica; conflitos na relação entre cientistas e jornalistas; a contribuição da imprensa para modificar a divulgação da ciência; o hermetismo da linguagem científica, o espaço ocupado pela ciência nos media e a dependência em relação às fontes oficiais.
Para a autora, o jornalismo científico, no entanto, atende a uma aspiração comum a todos os pesquisadores: a democratização dos resultados e processos da pesquisa científica realizada no país, através dos media. Assim, para Chaves, “o jornalismo científico se constitui em legítima fonte de popularização do conhecimento científico ao qual o cidadão comum tem pleno e livre acesso”.


QUARTO CAPÍTULO: CONCLUSÕES E REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA
4.1 CONCLUSÕES
A presente pesquisa concluiu que a maioria das estórias monitorizadas nos jornais Domingo e @ Verdade relacionado à ciência e tecnologia são referentes as Novas tecnologias bem como o uso das Tecnologias de Comunicação e Informação.
O jornal Domingo não tem uma página ou secao destinada a assuntos sobre ciência e tecnologia e quando abordava estes assuntos, trata-os de forma muito superficial em forma de notícias muito curtas que na sua maioria são referentes a eventos ligados à ciência e tecnologia que enquadram-se no âmbito dos trabalhos do Ministério da Ciência e Tecnologia, o que conduziu à confirmação da primeira hipótese deste trabalho segundo a qual os meios de comunicação social não dão à ciência e tecnologia igual destaque que é dado a economia política.
O jornal @ Verdade, limitou-se a trazer apenas os acontecimentos ou descrevê-los sem trazer o lado útil para o leitor. Este, foi usado para passar as informações das comunidades científicas. Mais de metade das histórias resulta de pesquisa na internet, apenas uma pequena parte foi iniciativa dos jornais o que fez com que ficasse provada a segunda hipótese segundo a qual os jornais Domingo e @ Verdade ao falarem sobre ciência e tecnologia não procuram demonstrar o lado útil ao seu público; não trazendo o lado humano ou social dos acontecimentos.
Para além da confirmação das hipóteses levantadas no mini-ensaio, foi possível constatar que o Jornal Domingo tende a favorecer o governo uma vez que, maior parte dos assuntos abordados referiam-se a eventos promovidos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.
A cobertura eficiente a assuntos sobre a ciência e tecnologia requer uma profissionalização dos jornalistas, dado que esta área tem a sua terminologia e que o jornalista precisa conhecer para traduzir os termos técnicos desta área para o cidadão comum facto esse que não acontece no nosso jornalismo.

4.2 Bibliografia

DE SOUSA, Cidoval Morais, Comunicação, Ciência e Sociedade disponível em Www. Jornalismocientifico.com.br
Sant’Anna, Ronaldo Jornalismo científico: tarefa para jornalistas ou cientistas? Disponível e m www.intercom.org.br/congresso/2010/trabalhos/IJ-DT1.pdf
MEADOWS, A. J. A comunicação científica. Brasília: Briquet de Lemos/Livros,
1999.
OLIVEIRA, Fabíola de. Jornalismo científico. São Paulo: Contexto, 2002.
LOCH, Cenilde. Autores e atores das descobertas portuguesas nos séculos XIV
e XV. Porto Alegre: EST, 1981.
BURKETT, Warren. Jornalismo científico: como escrever sobre ciência, medicina e alta tecnologia para os meios de comunicação. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1990.
NAMBURETE, Eduardo, Anuário de imprensa dos países Lusófonos, 2003.
BUENO, Wilson da Costa. A imprensa brasileira e a síndrome da erva daninha.
Goiânia: Comunicação & Informação, 2003.
WOLF, Mauro, Teorias da comunicação, presença, São Paulo, 2002.
SOUSA, Jorge Pedro, Comunicação, sociedade, cultura e Ciências da Comunicação, disponível em www.bocc.ubi.pt, consultado no dia 24 de Outubro de 2010.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ualalapi

Sobre o escritor Ungulani Ba Ka Khosa
Escritor moçambicano, de nome verdadeiro Francisco Esau Cossa, nascido a 1 de Agosto de 1957, em Inhaminga, província de Sofala. Tirou o bacharelato em História e Geografia na Faculdade de Educação da Universidade Eduardo Mondlane, exercendo a função de professor. Iniciou a sua carreira de escritor com a publicação de alguns contos e participou na fundação da revista Charrua na Associação de Escritores Moçambicanos, de que é membro. Tem publicadas a seguintes obras: Ualalapi (1987), Orgia dos Loucos (1990), Histórias de Amor e Espanto (1999) e No Reino dos Abutres (2002).
Ungulani Ba Ka Khosa
Ualalapi - é o nome de um guerreiro nguni a quem é destinada a missão de matar Mafemane, irmão de Mudungazi (depois chamado Ngungunhane- Gungunhana). Este guerreiro dá o título ao relato, ficcionado por Ba Ka Khosa, da vida e da época do Hosi (rei, imperador, em língua tsonga) Ngungunhane, famoso pela resistência que opôs aos portugueses nos finais do séc. XIX.
O livro aborda exactamente o momento inicial da ocupação efectiva pelos portugueses e a passagem do tempo pré-colonial ao período colonial. Ualalapi, no entanto, não é uma obra que apresenta os grandes feitos heróicos de um Grande Homem contra a violência do domínio colonial, como Ngungunhane vai ser retratado no Moçambique da pós-independência. Em vez disso dedica-se muito mais a uma representação de Ngungunhane que corresponde à realidade histórica, mostrando a imagem de um tirano cruel em relação aos outros povos africanos, mas também para com o seu próprio povo.

O romance dá-nos uma impressão da maneira como os portugueses surgiram lentamente nesta parte da África e como eram percepcionados enquanto seres diferentes. É, por outro lado, um ponto de vista que contrasta com os fragmentos históricos dos oficiais portugueses, intitulados “Fragmentos do fim”, que representam a história do ponto de vista do colonizador.
A violência excessiva no romance que caracteriza os métodos de Ngungunhane mostra um paralelo com a brutalidade deste Outro, colonizador e português nos Fragmentos do fim. Faz com que o imperador, a personagem central nesta época crucial na história de Moçambique, se revele um tirano que não se distingue dos portugueses na opressão e destruição das culturas africanas, que considera com uma inferioridade semelhante:
É interessante como Khosa conseguiu traçar um paralelo entre o império de Gaza e o tempo colonial através do fictício último discurso de Ngungunhane. Por um lado esclarece que a tradição da exploração já existiu antes da chegada dos portugueses. Por outro lado faz com que a profecia chegue pela boca de Ngungunhane, um tirano igual aos portugueses, o que faz com que a significação do tempo colonial ganhe ainda maiores dimensões.
A ocupação efectiva pelos portugueses aparece assim como um ponto de não retorno, significando o início de um processo que não só conduz à construção de uma nação moçambicana, mas também traduz uma transformação irrevogável, como resume Ngungunhane na previsão dos futuros acontecimentos
Khosa usa uma linguagem acessível para os leitores, levando o leitor a viver o acontecimento, fazendo com que ele muitas vezes penetre na história e faça parte dela.

História de Angola

Introdução
O presente trabalho é um mini-ensaio integrado nas aulas da cadeira de História Contemporrânea de África, lecionada no segundo semestre do terceiro ano do curso de Licenciatura em Jornalismo, ministrado pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane.
O trabalho tem como objectivo compreender o processo de descolonização da República de Angola, construir uma análise que identifique na produção moçambicana acadêmica que debatam acerca da linha explicativa do conflito que levou ao processo da independência angolana, bem como o processo que culminou com a guerra civil que durou mais de vinte anos
A metodologia de investigação usada para efeitos deste trabalho foi consulta bibliográfica em suportes materiais assim como pesquisa na internet.
Acredita-se que a relevância do assunto proposto está no fato de que a temática é muito recorrente, basta se debruçar sobre o estudo de qualquer aspecto da sociedade angolana, que o tema desperta interesse de qualquer indivíduo.
O trabalho está estruturado da seguinte maneira:
Primeiro aborda-se como é que decorreu a ocupação efectiva de Angola pelos portugueses ou o processo de colonização em Angola.
Segundo faz se uma abordagem do processo de descolonização desde a luta de libertação até a proclamação da independência total e completa de Angola.
Por fim narra-se o processo da guerra civil que durou mais de vinte anos até o acordo de paz que decorreu entre a UNITA e o MPLA.
Espera-se que o trabalho seja de maior relevância para esta cadeira e que possa corresponder as expectativas que se espera de um trabalho científico.

1. A descolonização em Angola
Antes de falarmos da descolonização faremos uma pequena abordagem geral.

Para Coutinho () a descolonização em Angola “resultou da correlação de forças (lá e cá) e foi sucessivamente adaptada às circunstâncias, pois não houve, de início, um objectivo comum em que todos estivessem integrados”.

2.1 A colonização em Angola
A primeira verdade sobre o colonialismo em África é que ele não foi cumulativo. As potências europeias não dividiram o continente inspiradas por uma visão de assegurar os ganhos iniciais através de seu denvolvimento rápido.
“Fizeram-no como uma garantia contra o crescimento futuro do proteccionismo, e sua a maior preocupação era de que o ágio anual tinha de ser mantido baixo”. Bouffon (1971)

2.2 A chegada dos portugueses
Os portugueses, sob o comando de Diogo Cão, no reinado de D. João II, chegaram ao Zaire em 1484. Foi a partir daqui que se iniciou a conquista pelos portugueses nesta região de África, incluindo Angola. O primeiro passo que Portugal deu foi estabelecer uma aliança com o Reino do Congo, que dominava toda a região. A sul deste reino existiam dois outros, o de Ndongo e o de Matamba, os quais não tardam a fundir-se, para dar origem ao reino de Angola (c. 1559).
Explorando as rivalidades e conflitos entre estes reinos, na segunda metade do século XVI os portugueses instalam-se na região de Angola. O primeiro governador de Angola, Paulo Dias de Novais, procura delimitar este vasto território e explorar os seus recursos naturais, em particular os escravos. A penetração para o interior é muito limitada. Em 1576 fundam São Paulo da Assunção de Luanda, a actual cidade de Luanda. Angola transforma-se rapidamente no principal mercado abastecedor de escravos das plantações da cana-de-açúcar do Brasil.
Até finais do século XVIII, Angola funciona como um reservatório de escravos para as plantações e minas do Brasil. A ocupação dos portugueses não vai muito mais além das fortalezas da costa.
A colonização efectiva do interior só se inicia no século XIX, após a independência do Brasil (1822) e o fim do tráfico de escravos (1836-42), mas não da escravatura. Esta ocupação trata-se de uma resposta às pretensões de outras potências europeias, como a Inglaterra, a Alemanha e a França, que reclamavam na altura o seu quinhão em África. Diversos tratados são firmados estabelecendo os territórios que a cada uma cabem, de acordo com o seu poder e habilidade negocial.

2.3 A Luta de libertação
Portugal conseguiu suprimir o Nacionalismo Africano durante a primeira metade do século XX. Em 1951 Portugal decidiu começar a tratar Angola como uma das suas províncias ultramarinas. Isto fez crescer um novo fervor nacionalista. Em poucos anos emergiram três grandes movimentos nacionalistas (MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola, FNLA - Frente Nacional de Libertação de Angola e UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola) que desencadeiram uma luta armada contra o colonialismo português em 1961.
O governo de Portugal (uma ditadura desde 1926), recusou-se a dialogar e prosseguiu na defesa até ao limite do último grande império colonial europeu. Para África foram mobilizados centenas de milhares de soldados. Durante o conflito armado, Portugal procurou consolidar a sua presença em Angola, promovendo a realização de importantes obras públicas.
A produção industrial e agrícola conheceu neste território um desenvolvimento impressionante. A exploração do petróleo de Cabinda iniciou-se em 1968, representando em 1973 cerca de 30% das receitas das exportações desta colónia. Entre 1960 e 1973 a taxa de crescimento do PIB (produto Interno Bruto) de Angola foi de 7% ao ano.
2.4 A independência
O conflito armado iniciou em 1964 e durou até 1974. Logo que Portugal assumiu o sistema político democrático, iniciou as negociações com os movimentos de libertação nomeadamente: o UPA/FNLA, o MPLA e a UNITA. O governo de transição foi constituído nos anos de 1974/1975.
O MPLA que controlava a capital, Luanda, proclamou a Independência da República Pupular de Angola às 23:00 horas do dia 11 de Novembro de 1975, pela voz de Agostinho Neto, culminando assim com o périplo independentista, iniciado a 4 de Fevereiro de 1961, com a luta de libertação nacional, estabelecendo o governo em Luanda com a presidência entregue ao líder do movimento.
Holden Roberto, líder do FNLA, proclamava a independência da República Pupular e Democrática de Angola á meia-noite do dia 11 de Novembro, no Ambriz. No mesmo dia a independência foi também proclamada em Nova Lisboa (Huambo), por Jonas Savimbi, líder na UNITA.
2. A Guerra Civil
Muito antes do Dia da Independência, a 11 de Novembro de 1975, já os três grupos nacionalistas que tinham combatido o colonialismo português lutavam entre si pelo controlo do país, e em particular da capital, Luanda. Cada um deles era na altura apoiado por potências estrangeiras, dando ao conflito uma dimensão internacional.
Para o caso angolano, o conflito interno foi bastante expressivo e violento, pois os diferentes grupos foram apoiados por potências internacionais (cenário da Guerra Fria e do mundo bipolar), somado à actuação de países já independentes do continente, com a África do Sul e o Zaire. A União Soviética e principalmente Cuba apoiavam o MPLA, que controlava a cidade de Luanda e algumas outras regiões da costa, nomeadamente o Lobito e Benguela. Os cubanos não tardaram a desembarcar em Angola a 5 de Outubro de 1975.
A África do Sul apoiava a UNITA e invadiu Angola a 9 de Agosto de 1975. O Zaire, que apoiava a FNLA, invadiu também este país, em Julho de 1975. A FNLA contava também com o apoio da China, mercenários portugueses e ingleses mas também com o apoio da África do Sul. Os EUA, que apoiaram inicialmente apenas a FNLA, não tardaram a ajudar também a UNITA. Neste caso, o apoio manteve-se até 1993. A sua estratégia foi durante muito tempo dividir Angola.

Como salienta Liberatti (1999) “as origens do conflito estão nas questões étnicas, nas divisões e desigualdades provocadas pelo regime colonial português. De acordo com sua perspectiva, as relações entre colônia e metrópole (1576-1926), se resume a uma relação onde o interesse da metrópole pela colônia era limitado à garantia do comércio e da disponibilidade de escravos. Essa característica só se modificou após a Conferência de Berlim, quando Portugal passou a exercer um crescente controlo sobre Angola através da aplicação de uma administração colonial até então inexistente”.
Em Outubro de 1975, o transporte aéreo de quantidades enormes de armas e soldados cubanos, organizado pelos soviéticos, mudou a situação, favorecendo o MPLA. As tropas sul-africanas e zairenses retiraram-se e o MPLA conseguiu formar um governo socialista monopartidário
Já em 1976, as Nações Unidas reconheciam o governo do MPLA como o legítimo representante de Angola, o que não foi seguido nem pelos EUA, nem pela África do Sul. No meio do caos que Angola se havia tornado, cerca de 300 mil portugueses abandonaram este país entre 1974 e 1976, o que agravou de forma dramática a situação económica.
Em Maio de 1977, um grupo do MPLA encabeçado por Nito Alves, desencadeou um golpe de Estado, que foi afogado num banho de sangue. No final deste ano, o MPLA realizou o seu 1º Congresso, onde se proclamou como sendo um partido marxista-leninista, adoptando o nome de MPLA - Partido do Trabalho.
A guerra continuava a alastrar por todo o território. A UNITA e a FNLA juntaram-se então contra o MPLA. A UNITA começou por ser expulsa do seu quartel-general no Huambo, sendo as suas forças dispersas e impelidas para o mato. Mais tarde, porém, o partido reagrupou-se, iniciando uma guerra longa e devastadora contra o governo do MPLA. A UNITA apresentava-se como sendo anti-marxista e pró-ocidental, mas tinha também raízes regionais, principalmente na população Ovimbundu do sul e centro de Angola.
Agostinho Neto morreu em Moscovo a 10 de setembro de 1979, sucedendo-lhe no cargo o ministro da Planificação, o engenheiro José Eduardo dos Santos.
No início da década de 1980, o número de mortos e refugiados não parou de aumentar. As infra-estruturas do país eram consecutivamente destruídas. Os ataques da África do Sul não páravam. Em agosto de 1981, lançaram a operação "Smokeshell" utilizando 15.000 soldados, blindados e aviões, avançando mais de 200 km na província do Cunene (sul de Angola).
O governo da África do Sul justificou a sua acção afirmando que na região estavam instaladas bases dos guerrilheiros da SWAPO, o movimento de libertação da Namíbia. Na realidade tratava-se de uma acção de apoio à UNITA, tendo em vista a criação de uma "zona libertada" sob a sua administração. Estes conflitos só terminaram em Dezembro de 1988, quando em Nova Iorque foi assinado um acordo tripartido (Angola, África do Sul e Cuba) que estabelecia a Independência da Namíbia e a retirada dos cubanos de Angola.
A partir de 1989, com a queda do bloco da ex-União Soviética, sucederam-se em Angola os acordos de paz entre a Unita e o MPLA, seguidos do recomeço das hostilidades. Em Junho de 1989, em Gbadolite (Zaire), a UNITA e o MPLA estabeleceram uma nova trégua. A paz apenas durou dois meses.
Em fins de Abril de 1990, o governo de Angola anunciou o reinício das conversações directas com a UNITA, com vista ao estabelecimento do cessar-fogo. No mês seguinte, a UNITA reconhecia oficialmente José Eduardo dos Santos como o Chefe de Estado angolano. O desmoronar da União Soviética acelerou o processo de democratização. No final do ano, o MPLA anunciava a introdução de reformas democráticas no país. A 11 de Maio de 1991, o governo publicou uma lei que autorizava a criação de novos partidos, pondo fim ao monopartidarismo. A 22 de Maio os últimos cubanos saíram de Angola.
Em 31 de maio de 1991, com a mediação de Portugal, EUA, União Soviética e da ONU, celebraram-se os acordos de Bicesse (Estoril), terminando com a guerra civil desde 1975, e marcando as eleições para o ano seguinte.
As eleições de Setembro de 1992, deram a vitória ao MPLA (cerca de 50% dos votos). A UNITA (cerca de 40% dos votos) não reconheceu os resultados eleitorais. Quase de imediato sucedeu-se um banho de sangue, reiniciando-se o conflito armado, primeiro em Luanda, mas alastrando-se rapidamente ao restante território.
A UNITA restabeleceu primeiramente a sua capital no Planalto Central com sede no Huambo (antiga Nova Lisboa), no leste e norte diamantífero.
Em 1993, o Conselho de Segurança das Nações Unidas embargou as transferências de armas e petróleo para a UNITA. Tanto o governo como a UNITA acordaram em parar as novas aquisições de armas, mas tudo não passou de palavras.
Em Novembro de 1994, celebrou-se o Protocolo de Lusaka, na Zâmbia entre a UNITA e o Governo de Angola (MPLA). A paz parecia mais do que nunca estar perto de ser alcançada. A UNITA usou o acordo de paz de Lusaka para impedir mais perdas territoriais e para fortalecer as suas forças militares. Em 1996 e 1997 adquiriu grandes quantidades de armamentos e combustível, enquanto ia cumprindo, sem pressa, vários dos compromissos que assumira através do Protocolo de Lusaka.
Entretanto o Ocidente passara a apoiar o governo do MPLA, o que marcou o declínio militar e político da UNITA, com este movimento a ter cada vez mais dificuldades em financiar as suas compras militares, perante o avanço no terreno das Forças Armadas de Angola, e dado o embargo internacional e diplomático a que se viu votada.
Em Dezembro de 1998, Angola retornou ao estado de guerra aberta, que só parou em 2002, com a morte de Jonas Savimbi (líder da Unita).
Com a morte do líder histórico da UNITA, este movimento iniciou negociações com o Governo de Angola com vista à deposição das armas, deixando de ser um movimento armado, e assumindo-se como mera força política.

3. Conclusão
Após a realização do trabalho que debruçou sobre o processo de descolonização em Angola foi um processo que levou duas décadas.
A presença colonial foi particularmente marcada pelo tráfico de escravos , a principal actividade comercial até os meados do século XIX. No total, cerca de 3 milhões de angolanos foram vendidos, a maioria para o Brasil.
Somente no século XX é que Portugal passou a considerar Angola como colónia de povoamento. A luta pela independência em Angola teve início na década de 60. A rebelião colonial expressava-se através de três movimentos rivais: (MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola, FNLA - Frente Nacional de Libertação de Angola e UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola).
A independência de Angola foi conseguida em 1975 tendo sido proclamada em três lugares pelos três movimentos de libertação.
Outra conclusão é a de que de um modo geral, as guerras civis nos países africanos foram causadas por uma combinação de componentes ideológicos, económicos e étnicos. As superpotências e as antigas metrópoles coloniais estimulavam a formação de facções, contribuindo com armas e dinheiro.
Nesse jogo complexo, os interesses de Washington e Moscou muitas vezes e misturavam com as relações de ódio entre as tribos africanas, ima herança da época da escravidão e da administração colonial.
A paz em Angola sò foi restaurada com a morte de Jonas Savimbi, lìder da UNITA, onde abriu-se espaço para as negociações com o Governo de Angola com vista à deposição das armas, deixando de ser um movimento armado, e assumindo-se como mera força política.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Radar americano a bordo de sonda indiana detecta mais água na Lua

A Nasa, a agência espacial americana, encontrou mais evidências de depósitos de gelo perto do polo norte da Lua. A descoberta foi possível graças aos registros do Mini-SAR, radar superleve (menos de 10 kg) embarcado na sonda indiana Chandrayaan-1. Foram mapeados mais de 40 pequenas crateras com gelo de água. O diâmetro das crateras varia de 2 a 15 quilômetros. Estima-se que haja no mínimo 600 milhões de metros cúbicos de gelo.



“O quadro que está emergindo das diversas medições, e dos dados dos intrumentos das missões lunares, indica que a criação, migração, depósito e retenção de água estão ocorrendo na Lua”, afirmou Paul Spudis, principal cientista da equipe que controla o Mini-SAR, sediada em Houston, Texas.



A existência de água na lua sempre foi considerada pelos especialistas como condição fundamental para o estabelecimento de uma base lunar permanente. A ironia deste anúncio sobre a identificação de mais indícios sólidos sobre depósitos de gelo em crateras lunares é que ele é feito poucos dias depois de a gestão Barack Obama dar uma ducha de água gelada nos planos da Nasa de retomar voos tripulados para a Lua. O orçamento dos EUA proposto pelo presidente democrata engaveta o programa Constellation , concebido para viabilizar o retorno do homem à Lua.



Os achados do Mini-SAR serão publicados em detalhes no periódico científico “Geophysical Research Letters”.

terça-feira, 2 de março de 2010

Tremor mudou eixo da Terra

O terremoto de 8,8 graus na escala Richter de sábado no Chile encurtou a duração dos dias no planeta numa fração de segundo. A constatação é de um grupo de cientistas do Laboratório da Nasa na Califórnia. Eles demonstraram, por meio de cálculos, que os dias passaram a ter 1,26 microssegundos a menos (cada microssegundo equivale a um milionésimo de segundo).
A mudança ocorre, segundo a Nasa, porque um terremoto desta magnitude é capaz de fazer com que a Terra gire mais rapidamente, uma vez que parte da massa do planeta aproxima-se do eixo do globo. Eles comparam a situação a um patinador que, quando gira sobre seus patins, numa pista de gelo, consegue aumentar sua velocidade quando cola os braços ao próprio corpo. Um terremoto poderia também desacelerar a rotação da Terra e tornar o dia mais longo caso a massa se distancie do eixo da Terra. Os cientistas disseram que a mudança é permanente, mas "muito, muito pequena". A fração é tão mínima que impede sua medição na prática, já que o sistema aplicado registra, no mínimo, variações de 5 milionésimos de segundo.